domingo, 14 de setembro de 2008

POUCO A POUCO

Pouco a pouco


O sol caminha sem que o vejas mover-se. E vem o entardecer e anoitece. Estás de novo em casa. Passou um dia.

Olhas-te ao espelho, um dia e outro, e não te vês crescer. É também assim que crescem as árvores e que o Inverno se torna Primavera e que a natureza produz flores e frutos, lagos e montanhas.

Pouco a pouco. Devagar. Sem que se note.

Há uma paciência imensa em tudo o que te rodeia. Um labor silencioso que alcança sempre os seus objectivos.

Pouco a pouco.

Uma semente pequena faz-se árvore grande com o tempo. E fica ali no seu lugar, sólida e generosa. Um dia, vens e abrigas-te à sua sombra. Mas essa sombra é uma obra de arte que esteve escondida por muito tempo e não pudeste acompanhar.

Não seria acertado que, na tua vida, desejasses a sombra refrescante - ou as flores, ou os frutos - sem que tivesse havido antes a semente aparentemente imóvel no lençol silencioso da terra, aquele sugar lento de minerais, a alternância repetida das estações.

Há uma grande sabedoria em saber esperar. Não me refiro a uma espera feita de inactividade e de indolência, mas àquela outra que é preenchida por pequenos passos firmes iluminados pela esperança.

A esperança não consiste simplesmente em aguardar com optimismo que a boa sorte nos bata à porta, em ter "pensamentos positivos", mas na certeza de que aos passos correctos e constantes está prometido o objectivo bom que procuramos. Quando se vai no caminho certo, quando se trabalha nos alicerces de uma coisa boa, ter esperança é ter a certeza de que se chega.

Tudo aquilo que é bom se pode alcançar. Tudo se consegue. Pouco a pouco. A seu tempo. E há frutos que, por serem tão grandes, só chegarão depois de nós passarmos.

É bom que tenhas grandes objectivos, ideais elevados e nobres. Mas deves considerar que, precisamente por serem grandes e elevados, só podem estar no final de um caminho longo, frequentemente cheio de obstáculos; e que não é sensato procurar atalhos para chegar a eles.

Se alguém te quiser oferecer a noz descascada, a vitória sem combate, o diploma sem a sabedoria, foge depressa. Encher-te-ias de vazio.

Quando queres resultados rápidos em coisas grandes - quando prescindes do esforço prolongado, da lentidão, dos métodos apropriados a um objectivo - saltas para fora da realidade. Podes magoar-te e magoar outras pessoas. Tudo o que fizeres a partir desse ponto não te levará a nenhum lugar. Será tudo falso, por ter perdido esse ajustamento à realidade a que chamamos verdade. Hás-de ver que te apodrecerá nas mãos, mais cedo ou mais tarde.

A tua impaciência, porém, não é necessariamente um defeito. Ela pode ser como o vento que empurra o navio. Serve-te dela não para te poupares a esforços, mas para te obrigares a crescer todos os dias. Para aperfeiçoares os teus gestos. Para te tornares mais capaz de ir longe e alto.



Paulo Geraldo

Um comentário:

Anônimo disse...

Que texto cheio de aprendizagem!!!

Deixo-te um outro que me fizeste lembrar nessa mesma direcção... :)

"A precipitação é responsável por muitos males que afligem o homem.
Um comportamento ansioso leva a estados de perturbação, gerador de sofrimentos perfeitamente evitáveis.
Sob o jugo da ansiedade, com frequência tomam-se atitudes incorretas.
A edificação interior, com a conquista da paz, exige um controle atento sobre as próprias acções e reacções.
O exercício da calma, por isso mesmo, é indispensável para um viver harmonico em face das perplexidades da vida.
A calma ensina a esperar pelos resultados de qualquer realização, os quais não podem mesmo ser antecipados.
O ritmo do tempo é inalterável.
Os acontecimentos sucedem naturalmente dentro de espaços que não podem ser modificados.
Agindo de forma precipitada, o homem ouve e vê mediante a óptica deformada, que mais o perturba.
Se há tempo de semear, por certo também chegará a hora da colheita.
É inútil pretender apressar o ciclo da natureza, para o momento da colheita chegar mais rápido.
No campo dos sentimentos, o mecanismo é equivalente.
Cada ocorrência na vida tem o seu momento próprio.
Reúne as tuas forças na disciplina e no equilíbrio, sem a ansia de precipitar sucessos que devem seguir o seu curso normal.
Conscientiza-te de que jamais acontecerá nada na tua vida que não necessites ou mereças.
Assim, confiante na direção sobre a tua vida, não sofras por antecipação, propiciando estados de ansiedade e amargura perfeitamente evitáveis.
Contudo, quando o sofrimento desabar sobre ti, enfrenta-o com nobreza, entendendo que ele corresponde à tua tarefa do momento.
Saibas que essa circunstância de dor inevitável é necessária como forma de crescimento para a vida.
Ela te auxilia na tua recuperação pessoal, dentro de um prisma mais elevado, na contabilidade de valores maiores.
Tenhas paciência e não te precipites nunca.
O agir estouvado é indicativo de imaturidade psicológica, desequilibrio.
Quem confia, verdadeiramente em Deus e em si, vive com serenidade, fazendo o bem possível sem pretender um controle inviável sobre a dinâmica da vida.
Decisões irrefletidas tendem a provocar arrependimentos. Mas isso não acontece quando os actos são fruto de reflexão e de calma.
Pode te parecer impossível suportar em paz os problemas que te angustiam.
Nesse caso,deixa-te acalmar pela beleza do teu ser e a tua propria dinvindade (o teu interior), que te responde.
Asserena-te e poupa-te guiado e amparado por um poder amoroso e sábio, e desfruta a paz que esse estado de consciência te proporciona."

Divaldo Franco

Um beijo enorme desta tua amiga, SEMPRE!